Apesar de anunciar publicamente o desejo de retomar um mandato no Legislativo como deputado federal, o petista e secretário estadual de Cidades, Humberto Costa, não descarta a possibilidade de uma disputa para o Senado. Tal vaga vem sendo pleiteada pelo ex-prefeito do Recife e secretário estadual de Articulação Regional, João Paulo.
“Da mesma forma que em outros momentos eu não me omiti a um chamado do partido. Se esse chamado existir, se houver um chamado do governador ou da frente popular, poderei ser candidato”, admite Costa em entrevista exclusiva ao Blog da Folha. Embora reconheça a “força e o prestígio” do correligionário, o secretário disse que a discussão dos nomes que irão representar o PT em 2010 deverá acontecer apenas “mais à frente”. “Acredito que no ano que vem vamos escolher o melhor nome para nos representar”. O petista ainda fala sobre o programa Minha Casa, Minha Vida e também afirma que o governo de Eduardo Campos é melhor do que foi o de Jarbas Vasconcelos (PMDB) em "todas as áreas". Confira a entrevista:
Como anda o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida aqui em Pernambuco?
Eu diria que vai bem. É um programa recente, de julho, e o Governo de Pernambuco se comprometeu a viabilizar a contrapartida que os Estados devem dar: infra-estrutura para os empreedimentos, realização do cadastro, doação dos terrenos e a desoneração tributária, que só sairá com um acordo de todos os secretários de fazenda do Brasil. Fizemos um cadastro de 215 mil pessoas com rendimentos de até três salários mínimos. Separamos e doamos cinco terrenos na Região Metropolitana para a construção de aproximadamente sete mil moradias e estamos montando parcerias com empreendimentos feitos por prefeituras com a iniciativa privada para dar um apoio na infra-estrutura. Vamos dispor em Pernambuco de 44 mil moradias. Para os 215 mil inscritos que recebem até três salários mínimos, serão construídas 18 mil casas. Isso significa que não há casa para todos. Os critérios de desempate ou de priorização estão sendo elaborados pelo Ministério das Cidades. Acredito que serão beneficiadas as famílias com maior número de membros, chefiadas por mulher ou ainda para deficientes.
Qual o déficit de moradias no Estado?
Em torno de 380 mil a 400 mil habitações.
O senhor é um dos coordenadores do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) aqui em Pernambuco. Que balanço o senhor faz desde que o programa foi implantado?
Faço um balanço positivo também. Na área de habitação, não tínhamos nenhum projeto elaborado anteriormente pelo governo para disputar esses recursos.Tivemos que começar do zero e conseguimos destravar recentemente todas as dificuldades que havia. Desde projetos com imperfeições, os órgãos de controle, o processo de relacionamento com a Caixa Econômica Federal. Agora as obras estão começando a pegar um ritmo razoável. Acredito que no ano que vem, ou elas estarão concluídas ou em fase de conclusão.
O senhor fala de um ritmo “razoável” e a oposição fala de obras empacadas e denuncia que muitas nem foram iniciadas como propaga o Governo Federal...
De fato aconteceu, em um determinado momento, uma certa dificuldade. No governo passado, nunca houve a preocupação de elaborar projetos para que se pudesse investir na área habitacional. Fomos atrás de projetos de prefeituras, muitos deles com imperfeições. Tivemos dificuldades no processo de regularização fundiária, muitos lugares com conflitos. No Canal do Jordão, estamos há um ano tentando retirar pessoas que estão ocupando irregularmente. Não vamos fazer isso de forma truculenta e sem respeitar o direito das pessoas. Esse entrave que era uma coisa previsível num programa novo e num Estado que não tinha a prática de construir moradias, acredito que agora as coisas irão andar mais rapidamente.
Com o senhor vê a medida do Tribunal de Contas da União (TCU) em paralisar diversas obras do PAC no país, inclusive em Pernambuco, com denúncias de superfaturamento?
Vejo com muita preocupação. Os órgãos de controle não trabalham de forma isonômica com o que eles cobram. Normalmente eles querem que o Executivo cumpra as determinações deles num espaço de tempo definido. Tudo tem prazo. Quando se trata de eles responderem dentro de um prazo as coisas não acontecem no mesmo nível. Os órgãos de controle têm que existir, eles têm que ser eficientes, mas eles não podem transformar essa aparente eficiência num processo em que nós vamos deixando num segundo plano o objetivo final que é dar a população melhores condições de vida. Acho que tem que haver uma investigação. Se for o caso pode-se paralisar, mas também tem que ter um prazo para o tribunal investigar. Muitas vezes essas obras são paralisadas por um ano, dois anos, para depois se constatar de que era um erro formal ou não era uma coisa insanável.
A candidatura da ministra Dilma Rousseff (PT) emplaca?
Acredito que sim. Ela é parte e uma das figuras mais importantes de um governo que deu certo em todas as áreas: social, econômica, infra-estrutura, relações internacionais... Muito disso tem a participação dela. Segundo, o próprio prestígio pessoal do presidente Lula que vai ser muito importante para o crescimento da candidatura dela. Eu a conheço de perto e sei que é uma pessoa preparada, competente e com grande sensibilidade social. Isso vai ser claramente visível ao longo do processo eleitoral. Acredito que ela vai empolgar, crescer e ganhar as eleições.
A entrada do deputado Ciro Gomes (PSB) na disputa pela Presidência da República pode vir a prejudicar a candidatura petista?
Creio que não. Até onde tenho sentido e visto, a candidatura de Ciro existe e existirá se for uma coisa do interesse da base de sustentação do governo Lula. Entendo que é um movimento articulado e combinado com a aprovação do presidente Lula. Acho que com o início do processo e com o crescimento de Dilma, dificilmente a candidatura de Ciro se mantém. Ela é legítima, mas a polarização que existirá com o candidato do PSDB fará com que a candidatura de Ciro não deslanche. A candidatura de Ciro em São Paulo seria uma grande novidade política e, quem sabe, um fator de grande repercussão para a candidatura de Dilma.
A recente visita do presidente Lula e comitiva às obras de transposição do São Francisco foi vista pela como uma campanha eleitoral antecipada e mereceu fortes críticas de opositores. Como o senhor viu toda essa reação?
É desespero. Quem não se lembra aqui quantas vezes o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) visitou as obras da duplicação da BR-232? Cada trecho de 50 quilômetros foi uma festa de inauguração que teve. Tudo o que foi feito na visita de Lula foi dentro da legalidade. È mais do que justo que se dê a essa obra, pela repercussão sócia e econômica que ela tem, a dimensão na divulgação do ponto de vista do seu tamanho.Não acho que haja exagero nisso, não.
O presidente Lula vai conseguir transferir votos para a candidata Dilma?
Acredito que ele vai conseguir transferir. Mas nenhum candidato ganha uma eleição se ele não tiver méritos próprios. E é isso que nos torna mais tranqüilo ao resultado das próximas eleições. Dilma terá na sua votação um peso importante por ser a candidata de Lula, mas por outro lado o desempenho dela será fundamental.
Atualmente, há um debate acalorado em torno de quem fez mais pelo Estado. Jarbas ou Eduardo. Qual a sua análise sobre essa discussão?
O comparativo entre o nosso governo e o governo Jarbas vai ser o nosso principal mote de campanha. As diferenças são enormes . O governo Jarbas foi um de uma nota só. Trabalhou exclusivamente para a Região Metropolitana e mesmo assim de forma tímida. O governo de Eduardo é sensivelmente melhor do que o de Jarbas em todas as áreas. Um exemplo: no final do ano que vem vamos entregar 20 mil moradias pelo Minha Casa, Minha Vida. Na era Jarbas, ao longo de oito anos, não foram feitas 10 mil moradias. Além de tudo o que nós estamos fazendo na área de segurança, educação, na própria área da saúde, que estamos começando a reverter o quadro de dificuldades que nós herdamos. È lógico que esse comparativo vai ser feito.
A oposição hoje busca retomar o poder em Pernambuco, mas se esbarra no dilema de encontrar um candidato para enfrentar Eduardo Campos. Como o senhor vê isso?
A oposição está sem discurso, sem projeto político e sem unidade. Na ausência disso, termina por acontecer isso que estamos vendo. A tentativa de nos enfrentar não pelas idéias, mas simplesmente pela acusação e inexistência de visão e propostas concretas. A oposição em Pernambuco não deve subestimada, não podemos imaginar que a eleição está ganha e calçar o salto alto. Temos que ter humildade e entender que temos amplas condições de vencer a eleição mesmo que o candidato do lado de lá seja Jarbas Vasconcelos.
O PT vai entrar na briga pelo Senado?
O partido entende que teve um papel primordial na vitória de Eduardo Campos com o apoio que nós demos no segundo turno. Também tem dado sua contribuição importantíssima no governo seja na Secretaria das Cidades ou na de Articulação Regional, com João Paulo. Temos a Prefeitura do Recife e a coisa mais natural é que o PT faça parte da chapa majoritária em 2010. Se será A ou B, isso é uma discussão que o partido fará depois do seu congresso.
O senhor já assume publicamente ser candidato a deputado federal no próximo ano. O secretário já jogou a toalha para a disputa do Senado e abre de vez espaço para João Paulo?
Eu tenho um objetivo de retomar o mandato e entendo que nesse momento a minha opção é ser candidato a federal. No entanto, da mesma forma que em outros momentos eu não me omiti a um chamado do partido. Se esse chamado existir, se houver um chamado do governador ou da frente popular, poderei ser candidato. Agora, trabalho com a possibilidade de vir a ser deputado federal como a mais concreta.
João Paulo é visto por muitos petistas como o mais credenciado para concorrer ao Senado. O senhor concorda com esse ponto de vista?
O melhor momento para se fazer essa discussão é no próximo ano, logo depois do encontro do PT. Nenhum de nós nega o prestígio e a força que João Paulo tem, mas entendemos que essa discussão cabe melhor mais à frente.Acredito que no ano que vem vamos escolher o melhor nome para nos representar.
O senhor e João Paulo ocupam pastas que dão certa visibilidade e têm percorrido bastante os municípios do interior. Isso fortalece os dois nomes petistas para 2010?
Lógico que essa nossa presença constante no trabalho do Governo do Estado nos fortalece. Mas o que eu acho mais importante é que estamos podendo dar uma contribuição ao governo Eduardo e ao povo para que ele possa desfrutar de um novo momento que Pernambuco está vivendo.
Qual a avaliação que o senhor faz do pré-acordo do PT com o PMDB para 2010?
É positivo. O PMDB tem sido uma força importante na garantia da governabilidade do presidente Lula. É um partido que na aliança conosco vai nos viabilizar um tempo de televisão e rádio onde teremos todas as condições de poder defender a nossa candidata. O PMDB é um partido que talvez tenha a maior capilaridade no Brasil e vai fazer com a nossa campanha possa chegar em lugares onde antes nós não tínhamos como chegar enquanto partido.
A Unidade na Lula (UL) tem se mostrado mais solidária com o governo de João da Costa. Com o antecessor era diferente o tratamento?
Ao contrário. Se há um grupo político de qualquer partido, mesmo fora do PT que tenha tido maior lealdade, fidelidade, solidariedade à prefeitura foi o nosso grupo. Na administração João Paulo, eu desafio quem quer que seja se em algum momento tenha visto criação de dificuldades da nossa parte ou uma postura de crítica à prefeitura. Da mesma forma é com o prefeito João da Costa. Divergências podem existir, mas ele é um prefeito do nosso partido. Ele tem um projeto que é melhor para a vida das pessoas aqui na nossa capital. Terá o nossa solidariedade e nosso apoio irrestrito ao longo da sua gestão.
As divergências dentro do PT foram explicitadas no último Processo de Eleição Direta (PED) aqui em Pernambuco. Isso não desgasta o partido internamente?
Isso é da vida do PT. Um partido onde não existem donos nem pessoas que controlam o partido. Desde a nossa origem, procuramos ser um partido plural onde as decisões são tomadas de baixo para cima. Uma das maneiras que nós temos para aferir a posição da maioria do nosso partido é o PED. Um acontecimento normal na vida do PT. Em outras legendas isso ocorre nos bastidores sem que ninguém saiba. No PT nós chamamos os filiados para que eles se manifestem e se posicionem sobre qual deve ser o rumo do PT.
O senador tucano Sérgio Guerra disse estar preocupado com o projeto Cidade da Copa em São Lourenço da Mata, um projeto bilionário e que ele vê com desconfiança. Isso vai vingar mesmo?
Muita gente achava até a Copa não aconteceria no Brasil e conseguimos que ela viesse pra cá e para Pernambuco. Assim como muitos não acreditaram na transposição, na Transnordestina, na refinaria... Hoje é uma realidade irreversível. Da mesma forma a Cidade da Copa. A modelagem institucional que vem sendo construída pelo governo com a iniciativa privada é uma coisa sólida. São empresas importantes, de peso e com experiência na área da construção civil e de gestão de eventos esportivos. Acredito que quando houver a licitação na PPP (Parcerias Público-Privadas), outras instituições irão participar e acho que o governo está certo em insistir na construção da Cidade da Copa. Vamos estar levando moradias, instituições e fazer um novo bairro organizado e estruturado.