Um encontro pode deixar marcas e mudar vidas. Às vezes, em alguns segundos. Às 5h50 de ontem, Diego Calixto Farias Carvalho, 19 anos, traçou um novo rumo para ele mesmo e outras duas pessoas que nem conhecia. Sem carteira de habilitação e depois de beber algumas cervejas numa comemoração durante a madrugada, como admitiu à polícia, ele perdeu o controle do carro que dirigia.
As funcionárias Silvania Maria, 42, e Márcia de Oliveira, 33, grávida, estavam abrindo o portão do laboratório quando foram atingidas. Silvania faleceu. Foto: Inês Campelo/DP/D.A Press
O Fiesta cruzou a Avenida 17 de agosto, em Casa Forte, bateu em um poste e derrubou um portão do laboratório Cerpe. Na calçada, a recepcionista Silvania Maria de Lima, 42, chegava para mais um dia de trabalho quando foi arrastada pelo veículo. Morreu no local. A amiga e funcionária do laboratório Márcia Maria de Oliveira, 33, também foi atingida pel veículo e jogada no chão. Grávida de seis meses, ela e Geovana (ainda na barriga) estão bem. Ganharam outro aniversário. Quase 12 horas depois do acidente, o jovem foi preso e enviado ao Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima. Ele responderá à acusação de homicídio e lesão corporal. Bastou para a polícia, a constatação visual de sinais de embriaguez.
O desfecho desse encontro, de acordo com os primeiros relatos de Diego à polícia, teria começado quando ele se reuniu com amigos na casa onde mora com a mãe e a tia, no bairro da Macaxeira. "Parece que fizeram uma festinha. Ele disse que bebeu umas cervejas e pegou o carro escondido para levar as pessoas em casa", disse o delegado de plantão da Delegacia de Casa Amarela, Carlos Guimarães. O advogado que está representando o jovem, Leonardo Raoni, confirmou que ele teria usado o carro do pai, que mora em Orobó, no Sertão do estado, para dar uma carona até a altura do Shopping Plaza, em Casa Forte. O acidente aconteceu quando ele retornava para casa pela Avenida 17 de Agosto, no sentido Casa Forte/Apipucos, a poucos minutos da residência.
As pessoas que passavam pela avenida no momento do acidente disseram que Diego teria ultrapassado um ônibus e perdido o controle do carro, invadindo a pista no sentidocontrário. Quando cruzou a via, o carro bateu em um primeiro poste, derrubou a luminária, rodou sobre a calçada e quebrou o portão do laboratório, parando em um segundo poste. As duas funcionárias estavam abrindo o portão quando foram atingidas. A perícia preliminar identificou que o condutor estava em alta velocidade, possivelmente acima de 80 km/h. No local, o jovem parecia assustado e chegou a chorar, permanecendo dentro do carro com medo de uma reação da população. "Ele estava com muito medo de ser linchado pelos populares, mas assumiu ter consumido cinco cervejas no churrasco", disse um dos primeiros a chegar ao local, o cabo do 11º Batalhão da Polícia Militar Amaro Paulo de Ananias.
Diego Calixto, 19, foi levado para o Cotel na tarde de ontem. Foto: Bernardo Dantas/Esp. Aqui PE/D.A Press
Preso em flagrante, o estudante do curso de logística do Instituto Brasileiro de Gestão e Marketing (IBGM), na Boa Vista, foi inicialmente encaminhado à Delegacia de Casa Amarela, onde não quis falar com a imprensa. Segundo o delegado e o advogado dele, também falou pouco durante o depoimento. No meio da manhã, o jovem foilevado ao Instituto de Medicina Legal (IML) para realizar um exame de alcoolemia (verificar o nível de álcool no organismo) e retornou à delegacia. Alguns parentes e amigos acompanharam os procedimentos, inicialmente, com a expectativa de pagar uma fiança e aguardar o julgamento em liberdade. Mas após analisar o Código de Trânsito Brasileiro, o delegado Guimarães informou que iria enquadrar o caso no Código Penal.
"O jovem assumiu um risco. É o chamado dolo eventual, em que se assume o risco de produzir esse resultado. O laudo provisório no IML indicou que o rapaz havia ingerido álcool.", justificou o delegado, esclarecendo que o jovem dirigiu sem habilitação, tendo bebido e ainda ultrapassado a velocidade permitida em via pública. Com a acusação baseada nos artigos 121 e 129 do Código Penal, respectivamente de homicídio doloso e lesão corporal, o jovem pode receber uma pena de 5 a 15 anos. Uma consequência que não esperava encontrar quando começou a noite.
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