Aflição e revolta são sentimentos comuns de quem procura informações no Instituto de Medicina Legal (IML). No local, é comum encontrar pessoas que buscam liberações dos corpos de entes queridos há quase uma semana e, muitas vezes, não encontram respostas satisfatórias. Aos gritos, Aluisio Lopes da Silva, de 42 anos, reclamava do atendimento na instituição. Ele perdeu o filho, Otacílio Lopes, em um acidente de ônibus, em São Lourenço da Mata na tarde de ontem (12). "É um absurdo. Ainda dizem que devemos ir para casa e ficar ligando para saber se o corpo já está ‘pronto‘ ou não. E a gente aguarda em casa, enquanto o corpo apodrece", protestava.
Situação parecida vive Maria Anunciada do Nascimento. Mãe de Carlos do Nascimento, morto em um acidente de moto em Jardim São Paulo, aos 18 anos, no último sábado, ela já está há quatro dias acampada no IML. "Ninguém diz nada. Fico aqui esperando. É só o que a gente pode fazer. Já não bastasse perder um familiar, ainda ter que aguentar uma situação dessas", lamenta. A dona de casa ainda diz o que viu nos dias em que esteve no local. "Já vi vários cadáveres saindo daqui. Todos roxos ou pretos, com a pele dura, já em decomposição. Cena de filme de terror".
De acordo com funcionários de funerárias do bairro de Santo Amaro, no Recife, próximas ao IML, que não quiseram se identificar, a espera padrão é de pelo menos cinco dias. "Isso já está assim há um mês e ninguém faz nada", denuncia um deles.
O atraso na liberação dos corpos está sendo agravado pela Operação Padrão, deflagrada por funcionários em protesto pela reestruturação da jornada de trabalho, de 30, para 40 horas semanais. Eles fazem todos os procedimentos previstos no protocolo padrão da instituição de forma minuciosa e sem pressa, o que acaba causando transtornos à população.
Hoje pela manhã, o gerente geral da Polícia Científica, Francisco Sarmento, se pronunciou sobre os problemas verificados na instituição. O IML, inclusive, adquiriu um caminhão frigorífico, com capacidade para 20 corpos, para absorver a demanda do órgão, em caso de sobrecarga da câmara interna já utilizada, que abriga até 60 cadáveres. "Isto é apenas uma medida preventiva, em caso de um grande acidente ou que excedamos a capacidade de nossa câmara e venhamos a precisar manter os corpos conservados", afirma.
Sobre a demora na liberação de corpos, Sarmento atribui o problema a uma paralisação dos funcionários no último dia 23 de março. De acordo com ele, na ocasião, cerca de 35 cadáveres ficaram retidos, mas, desde então, o número de liberações diárias do IML se mantém na normalidade ou acima do normal. "São entre 17 e 20 conclusões todos os dias, uma realidade diferente de antes, quando, numa sexta-feira, por exemplo, seriam liberadas apenas 13", analisa.
No entanto, utilizando matemática básica, com uma média como esta, do dia 23 de março até hoje (13) o instituto deveria ter liberado, cerca de 380 corpos. Com a retenção inicial de 40 corpos e havendo uma liberação de quase 20, todos os dias, o prazo para a conclusão de um procedimento comum deveria ser de, no máximo, 3 dias, prazo inferior ao que vem sendo verificado na instituição.
Ainda de acordo com Sarmento, a Operação Padrão não vem trazendo transtornos a Caruaru, onde o número de procedimentos ainda é baixo. Ele acrescentou que a negociação para o fim do impasse está sendo realizada entre a Associação Pernambucana de Medicina e Odontologia Legal (Apemol) e a Secretaria de Administração e que não vê porque a exigência da categoria não seja atendida. "Os funcionários sempre trabalharam 30 horas semanais e atendiam à demanda sem problemas", garante. Além de denunciar a precariedade do ambiente de trabalho, a Apemol exige a redução da carga horária, aumentada recentemente de 24 horas semanais para 40.
O Instituto Médico Legal ainda deve absorver uma grande demanda nos próximos meses, com a construção das novas unidades na cidade do Paulista e em Jaboatão dos Guararapes. Para isso, serão chamados os aprovados no último concurso do órgão, mas, antes de assumir, os candidatos precisam passar por um curso de capacitação, oferecido no final deste ano. A previsão de efetivação é apenas para janeiro de 2011.
Por Ed Wanderley, da Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
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