COPIAPÓ, Chile (Reuters) - A maioria dos mineiros presos na mina chilena de San José já foi içada com segurança por uma cápsula de resgate na quarta-feira, numa operação extraordinária que encerrou a espera de mais de dois meses debaixo da terra.
Um a um, os mineiros subiram através da apertada cápsula Fênix numa viagem de aproximadamente 15 minutos por 625 metros para recuperarem a liberdade.
Com 22 dos 33 mineiros salvos numa operação que ocorre rapidamente e sem empecilhos, as autoridades esperam concluir os trabalhos ainda na quarta-feira, em vez das 48 horas estimadas inicialmente.
A cada mineiro resgatado, cenas de euforia e comemoração tomavam o Acampamento Esperança, montado no deserto do Atacama, no norte do Chile, para a operação de resgate.
Os mineiros estão aparentemente saudáveis, mas alguns sentiram os efeitos do longo tempo soterrados e estavam mais frágeis. Equipes médicas prestaram atendimento aos resgatados logo depois que eles chegaram à superfície.
Mario Gómez, o mineiro mais velho do grupo, com 63 anos, chegou respirando com ajuda de uma máscara de oxigênio. Ele precisou de ajuda para deixar a cápsula e imediatamente ajoelhou-se para rezar.
"Nunca perdi a confiança que eles nos encontrariam", disse ele, que há 50 anos trabalha em minas.
Esteban Rojas também ajoelhou-se e rezou na chegada. Ele prometeu oficializar na igreja o casamento com sua esposa se saísse vivo.
"MILAGRE"
Eufóricos com o resgate, parentes e amigos celebraram com gritos e lágrimas a cada mineiro que percorria o túnel de resgate até reencontrar o ar puro pela primeira vez desde o acidente em 5 de agosto.
"É um milagre de Deus", resumiu Alberto Ávalos, tio do primeiro mineiro resgatado, que correu para a cápsula de resgate assim que chegou à superfície no início da madrugada.
Florencio Ávalos, 31 anos, pai de dois filhos, foi o primeiro a emergir, após 69 dias de isolamento e de uma claustrofóbica ascensão de quase 16 minutos num poço de 622 metros escavado na rocha.
Abraçado e beijado pela mulher, Mónica, e pelo filho Byron, Ávalos parecia muito saudável. Ele recebeu um forte abraço também do presidente chileno, Sebastián Piñera, enquanto a multidão gritava "Chi-chi-chi, le-le-le, viva Chile!."
Em seguida subiu Mario Sepúlveda, cujos gritos de felicidade já eram ouvidos saindo do poço, mesmo antes de ele chegar, o que causou risos nos parentes que o esperavam. Ele apareceu com uma sacola amarela, da qual tirou pedaços de pedra que distribuiu como uma espécie de souvenir, inclusive ao presidente.
"Estou muito contente!", gritou Sepúlveda, rindo, socando o ar e abraçando todos os que estavam à sua frente. Mas ele também soube falar sério.
"Estive com Deus e estive com o diabo. Os dois brigaram e Deus venceu", disse ele numa entrevista coletiva posterior, na qual cobrou mudanças abrangentes para garantir a segurança dos trabalhadores.
BARBEADOS
Em seguida saiu Juan Illanes, que chamou de "cruzeiro" o trajeto na Fênix. Todos os mineiros saem da cápsula usando óculos escuros, para proteger os olhos após passarem tantas semanas num ambiente mal iluminado.
Assim como suas esposas na superfície, que fizeram unhas e cabelo para receber os homens, os mineiros também chegaram arrumados e barbeados.
Eles ficaram retidos nas entranhas úmidas e calorosas da mina por causa de um desabamento ocorrido em 5 de agosto numa galeria num nível superior.
Durante 17 dias, acreditou-se que eles estavam mortos, até que uma pequena sonda conseguiu chegar à área onde eles se encontravam, trazendo de volta um bilhete que se tornou famoso: "Estamos bem no refúgio, os 33."
Em um discurso após o resgate do primeiro mineiro, Piñera chamou a atenção para a data do resgate, 13/10/10, cujos números somam 33. Ele pediu que o Chile mantenha o clima de união e otimismo que envolveu o resgate, e lembrou que o país ainda se recupera de um violento terremoto ocorrido em fevereiro.
Nas últimas semanas, o drama da sobrevivência do grupo e a extraordinária operação de resgate galvanizaram as atenções de todo o mundo.
Desde que foram localizados, os mineiros conseguiam receber suprimentos e se comunicar com o mundo por meio da estreita perfuração da sonda, com cerca de 20 centímetros de diâmetro.
Enquanto isso, outros três poços, com menos de 60 centímetros, pouco mais que a largura dos ombros de um adulto, eram escavados para o resgate. O chamado "Plano B" foi o primeiro a atingir o refúgio.
A última etapa da operação então começou na noite de terça-feira, quando um socorrista desceu na Fênix até a galeria da mina. Ali, foi abraçado pelos 33 mineiros e levou poucos minutos para instalar Ávalos na cápsula e autorizar a subida.
Nos últimos dias, os homens foram submetidos a dieta líquida e exercícios para perderem peso e facilitarem a ascensão.
ESPERA ANSIOSA
Com um misto de nervosismo e euforia, pais, esposas e filhos dos mineiros acompanharam toda a operação no Acampamento Esperança, que se formou nas últimas semanas em torno da mina San José, em meio à paisagem árida e rochosa do Atacama.
A cápsula Fênix, nome da ave mitológica que ressurge das cinzas, foi especialmente projetada para esse fim. Ela conta com rodas laterais para auxiliar o deslocamento, e está equipada com máscaras de oxigênio, comunicadores, câmeras e escotilhas.
Depois de escavarem o poço, os técnicos ainda tiveram de revestir com aço a parte superior, onde o terreno era mais instável, o que gerava o risco de que alguma pedra se desprendesse, bloqueando a saída.
Os engenheiros dizem que a etapa final da operação ainda contém riscos, mas que a cápsula está se comportando bem no poço. Até agora não há problemas no resgate, que pode durar até quinta-feira.
Cada ascensão leva cerca de 15 minutos. A cápsula anda a cerca de 1 metro por segundo (3,6 quilômetros por hora), a velocidade de uma caminhada normal. Mas ela pode chegar a 3 metros por segundo caso o mineiro que está sendo transportado tenha algum problema.
Após serem retirados, os mineiros devem passar dois dias em observação num hospital da vizinha Copiapó. Os médicos dizem que alguns dos homens estão psicologicamente abalados e podem enfrentar consequências do estresse durante muito tempo.
Depois do acidente, o governo chileno determinou uma reformulação total das regras de segurança no setor minerador, uma das principais atividades econômicas do Chile.
(Reportagem adicional de Antonio de la Jara, Fabian Cambero, Brad Haynes e Hugh Bronstein, em Santiago; e de Juana Casas, em Copiapó)
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