quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Lula e Dilma falam sobre economia, saúde, segurança, pré-sal e temas sociais em pronunciamento

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente eleita Dilma Rousseff fizeram hoje (3) o primeiro pronunciamento juntos após o pleito do último domingo (31). Lula falou primeiro e, após despedir-se da imprensa, passou a palavra para sua sucessora. Dilma também respondeu perguntas feitas por jornalistas e abordou temas como o reajuste do salário mínimo, a reforma agrária e a distribuição de cargos no novo governo.

Confira abaixo os principais assuntos abordados por Lula e por Dilma:


DILMA

Salário mínimo: “Temos um critério que considero muito bom, e falei isso na minha campanha, que é o fato do reajuste do salário mínimo ser baseado no PIB [Produto Interno Bruto] e na inflação. Temos um problema agora. É o fato do PIB de 2009 ser um PIB que se aproxima do zero ou um pouco abaixo de zero. Isso porque houve uma crise internacional que afetou as economias. O Brasil teve uma recuperação muito forte. Nós estamos avaliando, e essa é uma das questões que na minha volta [do descanso] vou debater com o governo, se é possível fazer essa compensação. Adianto que, num cenário de PIB crescendo a taxas que nós esperamos, nós vamos ter um salário mínimo em 2014 no horizonte de R$ 700. Se não houver nenhuma alteração, em 2011, ele estará acima dos R$ 600. Agora, vamos fazer esse ajuste."

Bolsa Família: “No caso do Bolsa Família, eu tenho um objetivo que é assegurar que a cobertura das famílias chegue a 100%. Hoje, não é 100%, depende do critério que você analisa. Houve muitas dificuldades dos estados, principalmente das prefeituras, em cadastrar. Nós, inclusive, financiamos as prefeituras para que elas pudessem cadastrar. No meu período de governo, vou buscar os 100% de cobertura e um nível maior de benefício proporcional ao que é possível ao país dar a esse conjunto de famílias. Não vou adiantar, não sei dizer hoje qual será esse reajuste, mas posso dizer que vai haver."

Novo governo: “Tenho conversado muito com o vice, Michel Temer, e temos uma convicção que é a seguinte: esse é um governo que vai se pautar não por uma partilha, mas por um processo de construção de uma equipe una. Quero reiterar que tenho visto por parte do PMDB toda uma iniciativa favorável a essa concepção. Nunca o PMDB chegou a me pedir um cargo. Estão participando de um processo de transição como participaram de todo o processo eleitoral. Não tenho nomes e não cometeria jamais a temeridade de lançar nomes individuais."

Economia: “Todos os países que não são a China e os Estados unidos percebem que há uma guerra cambial e eu quero dizer que, numa situação dessas, não há solução individual. Todas as vezes que tentaram solução individual, pode ter havido a desproteção do seu país, mas quando começa uma política de desvalorização competitiva, deu no que deu, que foi a 2ª Guerra Mundial."

MST: “No que se refere ao MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], em todas as oportunidades, eu me neguei a tratar o MST como caso de polícia. O MST não é um caso de polícia. No meu governo, eu não darei margem para [outro] Eldorado dos Carajás [confronto entre a polícia e o MST que resultou na morte de 19 sem-terra]. Porque isso é também uma questão de direitos humanos. Agora, não vou compactuar com ilegalidade, nem com invasão de prédios públicos, nem com invasão de propriedades produtivas."

Agricultura: “Temos de fazer uma revolução no campo no sentido de transformar os agricultores em proprietários. Fazer com que seus filhos tenham acesso à educação de qualidade. Por isso, resolver o problema dos sem-terra é criar milhões de pequenos proprietários que farão com que o quesito social no setor rural brasileiro seja cada vez mais democrático. Para isso, o produtor tem que ter renda, tem que receber rendimento, tem que perceber que ele melhorou de vida, que ele hoje pode garantir [o futuro] para o seu filho."

Pré-sal: "Não podemos ser exportadores de óleo bruto. Porque se formos vamos perder muito dinheiro. Temos de ter duas refinarias premium, não por uma mania de grandeza, como algumas vezes a oposição falou da Petrobras, mas por uma questão de estratégia. Tem que refinar [o petróleo] porque, quando refina, o preço do petróleo sobe mais do que proporcionalmente ao custo do refino e permite entrar numa outra área delicadíssima que é a petroquímica. O ganho é acima de 1000% e todo o país, hoje, é dependente petroquímico."

Prioridades de governo: “Considero que duas áreas vão ter destaque no meu governo. Uma é a saúde e a outra é a segurança pública. Considero que a educação está bem encaminhada e é dona de recursos maiores. Recursos que estou chamando de maiores é atenção, um cuidado maior e um empenho maior. No caso da saúde, vamos precisar completar toda a rede do SUS [Sistema Único de Saúde]. Está em questão também o problema da regulamentação da Emenda 29, o que, para a União, é mais fácil, o problema são os estados e também os municípios. É necessário abrir o processo de discussão com os governadores reeleitos. Na segurança pública, também teremos de investir recursos significativos. Não é possível resolver uma questão de envergadura nacional sem a cooperação de estados, municípios e União. E não é possível sem que a União participe efetivamente com recursos. Temos que ter uma clara prioridade para esta área.”

CPMF: “Eu tenho muita preocupação com a criação de impostos. Preferiria outros mecanismos, mas tenho visto uma pressão dos governadores, não posso fingir que não existe."


LULA

Composição da equipe: “O governo da Dilma tem que ser a cara e a semelhança da Dilma. É ela, e somente ela, que pode dizer quem ela quer e quem ela não quer. Somente ela pode dizer aos partidos aliados se concorda ou não com as pessoas. Na minha cabeça, funciona a seguinte tese: rei morto, rei posto. Um ex-presidente da República poderá dar um conselho se um dia for pedido.”

Economia: “Dilma aprendeu na Unicamp e no governo que, em economia, não existe mágica, não existe ninguém capaz de tirar da cartola um coelhinho que vai fazer as coisas acontecerem como se fosse um milagre. É seriedade e compromisso, é previsibilidade e seriedade e isso ela tem de sobra para fazer o país dar certo.”

Final do mandato: “Não temos pela frente medidas impopulares. Quando a gente diz medidas impopulares, no Brasil, é que, normalmente, as pessoas fazem alguma sacanagem contra o povo antes de deixar o mandato. Nem há necessidade, nem eu quero que isso aconteça. Vamos fazer o que sempre fiz, o que for necessário para garantir que a Dilma receba em 1º de janeiro o mandato com tranquilidade.”

Câmbio: “A primeira coisa que temos em comum é que queremos câmbio flutuante, a segunda coisa em comum é que achamos que os Estados Unidos e a China estão fazendo uma guerra cambial."

Câmbio e G20: “Vou para o G20 para brigar. Vamos tomar todas as medidas necessárias para não permitir que nossa moeda [dólar] fique subvalorizada.”

Oposição: “Queria pedir à oposição que, a partir de janeiro, eles olhassem um pouco mais o Brasil, que torcessem para que o Brasil desse certo porque, cada vez que tomam alguma atitude, ao invés de prejudicar o presidente, eles prejudicam a parte mais pobre da população. Queria que, dentro do Congresso Nacional, a oposição não faça contra a Dilma a política, eu diria, da vingança do trabalhar para o não dar certo. Na minha opinião, a oposição tem que saber diferenciar o que é interesse nacional e [o que é] briga político-partidária.”

Eleições: “Sou o cara que mais perdeu eleição para presidente da República, mais do que o Serra, que perdeu duas. Perdi três e quando a gente perde fica sisudo. O que eu poderia dizer nesse momento para a oposição? A Dilma é uma outra pessoa.”

CPMF: “Nunca me esqueço que essas pessoas tiraram R$ 40 bilhões anuais que, se for levar em conta o mandato inteiro, dá mais de R$ 160 bilhões da saúde. E qualquer governador e prefeito sabem que é preciso ter dinheiro para a saúde se quisermos dar um atendimento de qualidade. Acho que foi um engano terem derrubado a CPMF e acho que alguma coisa tem que ser feita para a área da saúde. Se quisermos levar o tratamento de alta complexidade que todos os políticos têm porque pagam planos médicos, se quisermos levar isso para a sociedade, temos que ter mais recursos.”

Salário mínimo: “Nosso projeto de lei prevê a recuperação do salário mínimo até 2023. É uma política extraordinária porque damos o PIB de dois anos atrás [na correção] mais a inflação do período. A verdade é que, no próximo ano, você vai ter 7,5% de crescimento mais 5% de inflação. Se estivermos apostando que a economia cresça entre 4,5% e 5%, nos próximos anos, e você tiver uma inflação de 4%, significa que você vai ter uma média de 10% de reajuste do salário mínimo.”

Sucessão em 2014: “Chegar ao final do mandato com o reconhecimento popular que tem o governo, com a aprovação que estou, voltar é uma temeridade porque a expectativa gerada é infinitamente maior. É muito pequeno nesse momento estarmos discutindo 2014, deveríamos discutir 2011.”

Governo Dilma: “A Dilma sabe o que tem que ser feito, conhece, já fez, ela pode aprimorar, ouvir a sociedade e tenho certeza que, se ela fizer tudo que ela sabe que tem que fazer, ela tem todo o direito de, em 2014, ser candidata outra vez.”


Da Agência Brasil

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